10 jogos icônicos lançados em 1997
Em 1997, já não vivíamos um período de transição na indústria gamer e os consoles de quinta geração já dominavam o mercado. Tanto que o PlayStation conquistou seu segundo ano consecutivo como líder de vendas globais. Enquanto isso, o Nintendo 64 finalmente começava a ganhar tração, apesar de sua tardia entrada no mercado.
No Brasil, o cenário ganhava novos contornos com a Gradiente assumindo de vez a fabricação dos consoles Nintendo após o fim da Playtronic. Essa mudança ajudou a normalizar a distribuição do Nintendo 64 no país, embora o preço de R$ 430 (equivalente a R$ 2.190 hoje) ainda fosse proibitivo para muitos brasileiros. A solução? O aquecido mercado de usados, impulsionado pelos classificados de revistas como a Ação Games e a Super GamePower, onde era possível encontrar um PlayStation com dois controles e seis jogos por R$ 450 (cerca de R$ 2.300).
O Japão se despedia de Gunpei Yokoi, o gênio criativo por trás do Game Boy, falecido em um acidente naquele ano. A SEGA também dizia adeus ao Mega Drive e ao Game Gear, enquanto a Sony apresentava uma nova forma de jogar com o lançamento do DualShock. A Nintendo, por sua vez, tentava estender a vida do Super Nintendo com o lançamento do SNES Baby acompanhado de Super Mario World 2, um dos melhores jogos do Mario já lançados, por meros US$ 99 nos Estados Unidos.
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Foi neste cenário fervilhante que surgiram alguns dos jogos mais icônicos de todos os tempos. Vamos revisitar esses clássicos que, mesmo depois de todos esses anos, seguem muito presentes e encantando jogadores de todas as idades.
10. Crash Bandicoot 2: Cortex Strikes Back
A Naughty Dog tinha um desafio imenso após o sucesso do primeiro Crash: como fazer uma sequência que superasse o original? A resposta veio na forma de Crash Bandicoot 2: Cortex Strikes Back, um título que aprimorou tudo o que funcionava no primeiro jogo e corrigiu praticamente todas as suas falhas.

O marsupial laranja ganhou movimentos mais fluidos, fases mais elaboradas e uma variedade muito maior de ambientes para explorar. Os desenvolvedores conseguiram extrair ainda mais poder do PlayStation, com visuais impressionantes que pareciam desafiar as limitações do hardware da época.
O que poucos sabem é que Crash Bandicoot 2 foi desenvolvido em apenas 13 meses, um prazo extremamente curto para os padrões da época e inimaginável para hoje em dia. Mesmo assim, o jogo vendeu mais de 7,5 milhões de cópias mundialmente e consolidou Crash como mascote não-oficial do PlayStation, em uma época em que a Sony ainda buscava um ícone para chamar de seu.
9. Tekken 3
Quando Tekken 3 chegou aos arcades em 1997, os jogadores mal podiam acreditar no que viam. A Namco havia conseguido criar uma experiência de luta 3D tão realista que parecia impossível para a tecnologia da época. Um ano depois, quando a versão para PlayStation foi lançada, muitos duvidavam que o console pudesse reproduzir aquela experiência.

Para surpresa geral, a conversão foi quase perfeita. Apesar de algumas concessões na parte gráfica, toda a jogabilidade, personagens e modos de jogo estavam lá. O sistema de combate foi refinado em relação aos antecessores, com um novo sistema de esquivas laterais que adicionou uma nova dimensão estratégica às lutas.
O sucesso foi tão retumbante que Tekken 3 é considerado até hoje por muitos como o melhor jogo de luta da era PlayStation. Com 8,3 milhões de cópias vendidas, ele foi o jogo de luta mais vendido de todos os tempos até então, recorde que manteve por muitos anos. No Brasil, o título ganhou carinho especial dos jogadores, que se identificaram instantaneamente com o capoerista brasileiro Eddy Gordo e sua jogabilidade extremamente acessível.
8. Fallout
Antes de se tornar a megafranquia que conhecemos hoje, Fallout nasceu como um RPG isométrico para PC, inspirado em um jogo chamado Wasteland. O mundo pós-apocalíptico retratado pela Interplay Productions em 1997 conquistou jogadores com sua narrativa profunda, ambientação única e liberdade de escolhas.

O sistema S.P.E.C.I.A.L. de atributos e a mecânica de combate por turnos baseada em pontos de ação estabeleceram bases que influenciariam RPGs ocidentais dali em diante. Mais impressionante ainda era a quantidade de formas diferentes de resolver quests, permitindo abordagens diplomáticas, furtivas ou combativas.
A atmosfera retrofuturista dos anos 1950, com sua visão otimista de um futuro nuclear, contrastando com a realidade pós-apocalíptica, criou uma identidade visual e narrativa única para a série. Embora tenha vendido apenas cerca de 600 mil cópias, Fallout plantou a semente para o que se tornaria uma das franquias mais lucrativas da indústria gamer nas décadas seguintes.
7. Grand Theft Auto
Poucos imaginariam que aquele jogo de visão superior em 2D, onde controlávamos pequenos bonecos pixelados em uma cidade aberta, se tornaria uma das franquias mais valiosas da cultura pop. O primeiro Grand Theft Auto, desenvolvido pela DMA Design (que depois se tornaria Rockstar North), definiu muitos dos conceitos de mundo aberto e liberdade de gameplay que vemos em muitos jogos atualmente.

A premissa era simples: o jogador assumia o papel de um criminoso que tinha total liberdade para cumprir missões, explorar a cidade ou simplesmente causar caos. Foi essa liberdade sem precedentes, junto com a controvérsia gerada pela violência explícita, que colocou GTA no mapa.
Originalmente, GTA nem era para ser sobre carros ou crime. O jogo começou como um projeto chamado “Race’n’Chase”, um simulador de policiais onde os jogadores alternariam entre perseguir criminosos e fugir da polícia. Durante o desenvolvimento, os programadores perceberam que era muito mais divertido ser o bandido e causar destruição, mudando completamente o rumo do projeto e, consequentemente, da história dos videogames.
6. Star Fox 64
A chegada de Star Fox 64 ao Nintendo 64 redefiniu a franquia que havia conquistado uma legião de fãs no SNES. O jogo fez uso magistral do hardware do Nintendo 64, oferecendo gráficos 3D impressionantes para a época e uma jogabilidade que aproveitava perfeitamente o novo controle analógico.

O título também foi o responsável por apresentar o Rumble Pak, acessório que vibrava o controle em momentos específicos do jogo, criando uma nova dimensão de imersão que hoje tomamos como padrão. Esta foi a primeira vez que os jogadores puderam “sentir” explosões e impactos nas palmas das mãos, uma inovação que seria adotada por toda a indústria — inclusive pela Sony com o DualShock do PlayStation.
As frases memoráveis como “Do a barrel roll!” e “Can’t let you do that, Star Fox” se tornaram parte da cultura pop dos videogames e viraram meme. O sistema de múltiplos caminhos, que oferecia rotas alternativas dependendo das ações do jogador durante as fases, garantia alta rejogabilidade, algo raro em jogos rail shooter da época.
5. Age of Empires
Quando a Ensemble Studios e a Microsoft lançaram Age of Empires em 1997, elas acabaram criando um dos jogos de estratégia em tempo real mais importantes da história, como também moldaram todo um novo subgênero. Misturando a jogabilidade de Warcraft e Command & Conquer com uma rigorosa base histórica, Age of Empires conquistou tanto gamers casuais quanto hardcore.

O jogo permitia recriar batalhas épicas da antiguidade, com 12 civilizações distintas, cada uma com unidades, tecnologias e estratégias únicas. Diferentemente de outros RTS da época focados em ficção científica ou fantasia, Age of Empires mergulhava o jogador na história humana, da Idade da Pedra à Idade do Ferro.
O sucesso foi tão grande que o jogo originou uma das franquias mais longevas da Microsoft, com sequências, expansões e spin-offs que continuam sendo lançados até hoje. A importância do título é tamanha que muitos professores de história o adotaram como ferramenta didática complementar, reconhecendo seu valor educacional além do entretenimento — um testamento ao compromisso dos desenvolvedores com a precisão histórica.
4. Castlevania: Symphony of the Night
Koji Igarashi assumiu a direção da série Castlevania e trouxe uma nova visão para a franquia: criar algo radicalmente diferente dos jogos lineares de plataforma que caracterizavam a série até então. O resultado foi Symphony of the Night, um título que reinventou Castlevania e criou um novo subgênero de jogos: o metroidvania.

A obra-prima de Igarashi mesclou elementos de RPG com a ação de plataforma tradicional da série. O jogador controlava Alucard, filho de Drácula, explorando um castelo gigantesco e não-linear, ganhando novas habilidades que desbloqueavam áreas antes inacessíveis. Este conceito de progressão e exploração influenciou incontáveis jogos nos anos seguintes.
Curiosamente, Symphony of the Night foi inicialmente considerado um fracasso comercial no ocidente, vendendo apenas cerca de 30 mil cópias em seu lançamento nos EUA. Foi apenas com o tempo e o boca-a-boca que o jogo ganhou status de cult, sendo hoje aclamado como um dos melhores jogos de todos os tempos e vendendo mais de 700 mil cópias apenas na versão para PlayStation.
3. Gran Turismo
A pequena equipe da Polyphony Digital, liderada por Kazunori Yamauchi, tinha uma visão ambiciosa quando começaram a desenvolver Gran Turismo: criar o simulador de corrida definitivo para consoles. Depois de cinco anos de desenvolvimento meticuloso, o resultado superou todas as expectativas.

Gran Turismo trouxe aos videogames um modelo de física ultrarrealista, reproduzindo com precisão impressionante o comportamento de cada um dos 140 veículos à disposição dos jogadores. Todos eles eram modelados com detalhes obsessivos e com características de direção distintas. Pela primeira vez, um jogo de corrida para console fazia distinção entre tração dianteira, traseira e integral, com cada configuração exigindo técnicas diferentes de condução.
O modo de simulação do jogo, com seu sistema de licenças e progressão gradual, influenciou praticamente todos os jogos de corrida que vieram depois. Com mais de 10,85 milhões de cópias vendidas apenas no PlayStation original, Gran Turismo se tornou a franquia mais importante da Sony e segue até hoje como referência em simulação automobilística nos videogames.
2. GoldenEye 007
Adaptar filmes para videogames raramente dá certo, e as expectativas para GoldenEye 007 não eram diferentes. Lançado quase dois anos após o filme, o jogo parecia destinado a ser apenas mais um produto licenciado medíocre. Em vez disso, a Rare entregou o que muitos consideram o jogo mais influente do Nintendo 64.

Desenvolvido por uma equipe inexperiente em FPS, liderada por Martin Hollis, GoldenEye reinventou o gênero para consoles com controles intuitivos, design de níveis inspirado e um revolucionário modo multiplayer para quatro jogadores. Foi o primeiro FPS para console a demonstrar que o gênero podia funcionar tão bem com controles analógicos quanto com teclado e mouse.
O impacto cultural de GoldenEye 007 foi tamanho que, mesmo décadas depois, gamers ainda debatem sobre “quem pode escolher Oddjob” nas partidas multiplayer — uma referência ao personagem baixinho que tinha vantagem injusta por ser um alvo menor. Com mais de 8 milhões de cópias vendidas, GoldenEye 007 estabeleceu o padrão para todos os FPS de console e foi tão importante para a indústria que entrou para o Hall da Fama dos Videogames.
1. Final Fantasy VII
Quando a Square anunciou que Final Fantasy VII seria exclusivo para PlayStation, abandonando a Nintendo após seis jogos, o mundo dos games a baixo. A decisão, motivada pelas limitações do cartucho do Nintendo 64 frente aos CDs do PlayStation, resultou no que muitos consideram o RPG mais influente de todos os tempos.

Final Fantasy VII foi o primeiro jogo da série a utilizar gráficos 3D para as batalhas e exploração, com cenários pré-renderizados de tirar o fôlego e cutscenes cinematográficas que passam a sensação de estarmos assistindo a um filme. A produção consumiu um orçamento astronômico de US$ 45 milhões (surreal para a época) e contou com uma equipe de mais de 100 pessoas — números inéditos para um jogo japonês em 1997.
A história de Cloud Strife e sua luta contra a megacorporação Shinra e o vilão Sephiroth cativou milhões de jogadores, muitos dos quais experimentavam um RPG japonês pela primeira vez. Momentos icônicos como a morte de Aerith permanecem entre as maiores reviravoltas da história dos games. Com mais de 11 milhões de cópias vendidas, FFVII foi o jogo mais vendido de 1997 em todo o mundo, responsável por democratizar os JRPGs no ocidente e estabelecer o PlayStation como o console obrigatório para fãs do gênero.
Menções honrosas
A diversidade de jogos lançados em 1997 foi tamanha que não poderíamos deixar de fora alguns títulos que também marcaram os jogadores e a indústria de alguma maneira naquela época.
Carmageddon
Poucas controvérsias nos games dos anos 1990 se comparam à que cercou Carmageddon. O jogo de corrida da Stainless Games chocou o mundo com sua premissa: além de vencer corridas, os jogadores ganhavam pontos ao atropelar pedestres. O título foi banido em vários países e lançado com modificações em outros (no Brasil, os pedestres foram substituídos por zumbis de sangue verde). Apesar da polêmica, ou talvez por causa dela, o jogo vendeu mais de 2 milhões de cópias, provando que a controvérsia poderia ser um poderoso instrumento de marketing.

Diddy Kong Racing
Enquanto Mario Kart 64 recebia toda a atenção, a Rare silenciosamente desenvolvia uma experiência de kart racing ainda mais completa. Diddy Kong Racing inovou ao adicionar um genuíno modo aventura com chefes, desafios e até uma história, elementos que não eram vistos no jogo do encanador bigodudo. O título também permitia escolher entre carros, hovercrafts e aviões, o influenciou e foi incorporador à série Mario Kart anos depois. DKR vendeu impressionantes 4,8 milhões de cópias e provou que jogos de kart poderiam ser mais do que simples coletâneas de pistas.
Mortal Kombat 4
A transição para o 3D é problemática para muitas franquias, e Mortal Kombat enfrentou esse desafio em 1997. Enquanto títulos como Tekken já dominavam esse segmento, a Midway deu seus primeiros passos cautelosos nessa direção com MK4. O jogo manteve a jogabilidade no plano 2D, mas com personagens e cenários em 3D completo. Os famosos fatalities ganharam nova vida com os gráficos poligonais, permitindo movimentos e ângulos de câmera antes impossíveis. Embora não seja o mais amado da série, MK4 foi crucial por mostrar que a essência sangrenta da franquia poderia sobreviver na era 3D.

Street Fighter III
Street Fighter III foi recebido com muita frieza pelos jogadores, principalmente por algumas decisões e recursos polêmicos que vieram com ele. O elencou foi totalmente substituído (apenas Ryu e Ken sobreviveram) e o jogo introduziu mecânicas complexas como o sistema de parry, que permitia ao jogador anular ataques com timing perfeito. Apesar disso, o tempo se tornou um aliado de SF3 e logo jogadores hardcore começaram a cultuá-lo, especialmente após o lançamento da versão Third Strike em 1999. Hoje, ele é considerado por muitos como o auge técnico da série, com animações frame-a-frame meticulosamente desenhadas à mão e que impressionam até em relação aos padrões atuais.
1997 viu amadurecimento dos jogos 3D
Em 1997, vimos o PlayStation consolidar sua dominância com títulos que definiriam o futuro da indústria, como Final Fantasy VII e Gran Turismo. O Nintendo 64, apesar de seu catálogo mais limitado, entregou obras-primas como GoldenEye 007 e Star Fox 64 que demonstraram o poder de seus controles analógicos para gêneros como FPS.
A era 3D finalmente amadureceu, com desenvolvedores aprendendo a criar experiências verdadeiramente tridimensionais em vez de simplesmente adaptar conceitos 2D. Jogos como Crash Bandicoot 2 mostraram que as plataformas 3D poderiam oferecer muito mais do que seus ancestrais 2D, enquanto Symphony of the Night provou que ainda havia espaço para a excelência bidimensional.
Foi também o ano em que os mundos abertos começaram a ganhar forma, com GTA estabelecendo as bases para o que se tornaria um dos gêneros dominantes na atualidade.
Os 10 jogos mais marcantes de 1997
- Final Fantasy VII: revolucionou os RPGs japoneses com gráficos 3D, narrativa cinematográfica e personagens complexos. Foi o jogo mais vendido de 1997 e popularizou o gênero no ocidente
- GoldenEye 007: redefiniu os FPS para consoles com controles intuitivos e multiplayer para quatro jogadores. Provou que adaptações de filmes podem ser excelentes jogos
- Gran Turismo: estabeleceu o padrão para simuladores de corrida com física realista e progressão baseada em licenças. Vendeu mais de 10 milhões de cópias só no PlayStation original
- Castlevania: Symphony of the Night: reinventou a série com elementos de RPG e estrutura não-linear, criando o subgênero metroidvania. Inicialmente um fracasso comercial, hoje é considerado um dos melhores jogos de todos os tempos
- Age of Empires: combinou jogabilidade acessível com precisão histórica para criar uma das franquias mais duradouras da Microsoft, sendo adotado até mesmo como ferramenta educacional
- Star Fox 64: responsável por apresentar o Rumble Pak e feedback háptico nos consoles. Seu sistema de rotas múltiplas e frases o tornaram um clássico instantâneo do N64
- Grand Theft Auto: criou as bases para os jogos de mundo aberto modernos. Começou como um simples jogo 2D e evoluiu para uma das franquias mais valiosas da cultura pop
- Fallout: o epicentro dos RPGs ocidentais com um sistema de escolhas morais e múltiplas soluções para cada problema. Criou um universo pós-apocalíptico único que continua relevante até hoje
- Tekken 3: referência em jogos de luta 3D com sistema de combate acessível, tornando-se o mais vendido da história na época e xodó dos brasileiros pela presença do capoerista Eddy
- Crash Bandicoot 2: aprimorou todos os aspectos do original e consolidou Crash como mascote não-oficial do PlayStation com 7,5 milhões de cópias vendidas
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