Rússia usou Brasil para ‘fabricar’ espiões, revela jornal
Parece roteiro de algum filme ou série de espionagem. A Rússia usou o Brasil como ponto de partida para seus melhores espiões, revelou o jornal New York Times nesta semana. Os agentes criavam suas personas aqui ao longo de anos. Depois, partiam para missões em outros países.
Na prática, o Brasil virou uma espécie de fábrica de espiões russos. Mas agentes da Polícia Federal descobriram um padrão que permitiu identificar os “ilegais” (nome dado à elite dos oficiais de inteligência da Rússia). Isso foi possível após três anos de investigação, chamada de Operação Leste.
Objetivo da operação da Rússia não era espionar o Brasil, mas tornar seus espiões brasileiros
Essa definitivamente não é a primeira operação de espionagem russa descoberta no mundo. Mas é uma, no mínimo, peculiar. Isso porque o objetivo dela não era espionar o Brasil. Era tornar seus agentes (russos) brasileiros. De maneira legítima mesmo.

Em abril de 2022, a Polícia Federal recebeu uma mensagem da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA). O alerta era: um agente de inteligência militar russa havia aplicado para um estágio no Tribunal Penal Internacional na Holanda.
“Ok, onde entra o Brasil nesta história?”, você provavelmente pensou agora. Bem, o tal candidato viajava com um passaporte brasileiro. E foi barrado pela imigração holandesa enquanto tentava pegar um voo para São Paulo (SP).
No documento, o nome do rapaz era Victor Muller Ferreira. Mas, segundo a CIA, seu nome verdadeiro era Sergey Cherkasov. Ele conseguiu viajar e se hospedou num hotel na capital paulistana. Eventualmente, policiais conseguiram prendê-lo. Não por espionagem, mas sim uso de documentos falsos.

Durante o interrogatório, Cherkasov insistiu ser brasileiro. E apresentou documentos para sustentar sua alegação. Passaporte, título de eleitor, certificado de conclusão do serviço militar obrigatório. Tudo autêntico.
A história de Cherkasov e a “fábrica” de espiões da Rússia no Brasil começaram a desmoronar quando a polícia encontrou a certidão de nascimento dele.
O documento era autêntico, mas os agentes brasileiros confirmaram que Victor Muller Ferreira nunca tinha existido. Então, policiais começaram a caçar “fantasmas”. Isto é, pessoas com certidões legítimas, mas sem histórico no Brasil.
Outros espiões russos ‘brasileiros’
A Polícia Federal identificou ao menos nove agentes russos com identidades brasileiras, segundo documentos e entrevistas coletados pelo jornal.

Após apagarem os rastros de seu passado russo, esses espiões abriram empresas, fizeram amigos e até viveram romances no Brasil. Um abriu uma joalheria, por exemplo. Outra era modelo. Assim, eles cultivavam as facetas das suas novas identidades.
Por aqui, a missão era apenas montar identidades verossímeis. Depois, o “trabalho de verdade” começava. Protegidos pelas personas brasileiras autênticas, eles iam para Estados Unidos, Europa, Oriente Médio. No exterior, a missão era espionar.
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A investigação da Polícia Federal alcançou ao menos oito países, com apoio de serviços de inteligência dos EUA, Israel, Holanda, Uruguai e outros aliados ocidentais. A operação “desmantelou um grupo de agentes altamente treinados e difíceis de substituir”, afirmou o jornal.
Ao menos dois agentes russos foram presos. Outros voltaram para a Rússia. “Com as identidades expostas, é improvável que voltem a atuar no exterior”, diz a reportagem do jornal. Será?
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