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Análise | Ambidextro – O jogo que te obriga a virar um polvo emocional

Você sabe o que é tentar tomar café enquanto segura o celular, abre a porta e ainda disfarça a crise existencial? É tipo isso que Ambidextro quer que você sinta — só que num plano 2D e com uma trilha sonora que parece ter saído de um ritual satânico feito num fliperama abandonado. 🍷🔮

A premissa é simples: um mago foi partido ao meio (mentalmente já me identifiquei), e agora você precisa controlar suas duas metades, ao mesmo tempo, cada uma com um analógico diferente. Parece fácil? É porque você ainda não jogou.

🎮 Quando coordenação vira filosofia

Em um mundo onde até andar em linha reta virou tarefa multitarefa, Ambidextro entrega um gameplay que é metade plataforma, metade tortura cognitiva. Você controla as duas metades do mago — que, pra mim, são claramente os lados do cérebro depois de um burnout — e tem que levá-los até o centro do mapa. Juntos. Sem morrer.

Spoiler: você vai morrer.

Várias vezes.

E cada morte parece um lembrete gentil de que talvez, só talvez, você não esteja tão no controle quanto achava da sua própria cabeça. É tipo Celeste, se ela tivesse sido escrita depois de uma briga feia entre o lado emocional e o racional da protagonista.

🤹‍♀️ O caos é bonito (quando visto de longe)

Visualmente, o jogo é uma delícia. Pixel art no estilo que parece ter sido programado em um disquete de 1.44 MB, mas com corações quebrados em alta definição. Cada fase é um palco minimalista onde a simetria é lei — e a dissonância é castigo.

A estética lembra aquelas animações educativas dos anos 80, mas com uma pitada de apocalipse mental. Sabe aquele fundo preto que dá a sensação de abismo existencial? Tem. Sons de pressão interna simulados com notas dissonantes em sintetizador? Check. Metáfora visual para estresse crônico? Provavelmente.

🧠 Um teste de QI emocional disfarçado de game

Jogando Ambidextro, tive flashbacks de quando tentei aprender a dirigir e descobrir onde ficava a embreagem. Só que aqui, a embreagem é seu lado esquerdo do cérebro, e o freio de mão é a ansiedade que cresce a cada erro.

A cada fase, a dificuldade sobe um degrau. E não é aquele “ah, agora tem espinhos”. É mais tipo “e se você tivesse que coordenar dois personagens invertidos, com gravidade alternada, enquanto ouve uma música de boss final do Castlevania?”. O jogo não te ensina — ele te joga no palco e espera que você dance. É cruel? Sim. É genial? Também.

🎵 Trilha sonora: Dungeon Synth ou sessão de terapia medieval?

A trilha do jogo merece um parágrafo só dela. É tipo se o Death Grips tivesse um filho com Final Fantasy Tactics e decidisse fazer só música instrumental usando um teclado de brinquedo da década de 90.

Mas ela encaixa. Encaixa no jeito que tudo parece pesado, urgente, e um pouco errado. Ela dita o ritmo dos seus erros. A cada nota, você sente que o tempo está contra você — e a estética musical conversa com o sentimento do jogo: você está preso num ciclo de tentativa e falha, mas existe beleza até aí.

🪞 Ambidextro como experiência, não como jogo

A parte mais legal de Ambidextro é que ele nem tenta te entreter. Ele quer que você entenda. Que você sofra. Que você perceba que controlar dois lados de si mesmo ao mesmo tempo é tão difícil quanto manter equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, ansiedade e apatia, ou memes e livros de filosofia.

Você não joga Ambidextro pra se divertir. Você joga pra se provar. É um tipo de jornada interior que parece bobinha, mas te ensina coisas. Tipo que você não é tão bom multitarefa quanto achava. Ou que seus reflexos talvez estejam vencidos. Ou que seu lado esquerdo não conversa bem com o direito (alô, psicoterapia!).

🤹‍♂️ Comparações que ninguém pediu (mas que Magali faz mesmo assim)

  • Ambidextro é o Inside da coordenação motora.

  • É Super Meat Boy com o dobro de culpa.

  • É o Portal do design emocional, se a GLaDOS fosse um timer e o cenário não tivesse piedade nenhuma.

  • É tipo brigar com você mesmo jogando Overcooked, só que sem risadas no final.

Prós:

  • Estética retrô que bate forte na nostalgia emocional
  • Desafio cerebral honesto e sem condescendência
  • Trilha sonora que parece feita por um bruxo de 8 bits
  • Narrativa sutil sobre divisão, identidade e sanidade

Contras:

  • Pode causar frustração extrema (sem garantia de paz interior)
  • Falta de acessibilidade pra quem tem dificuldades motoras
  • Nenhum momento de descanso: o jogo exige 100% do tempo todo
  • Algumas fases parecem feitas pra te humilha

Nota Final: 7/10

Se você joga videogame como forma de escapar da vida, Ambidextro vai te lembrar que sua cabeça ainda está lá. Mas, se você joga pra entender, questionar e talvez se reconstruir, esse jogo é quase uma pequena epifania em forma de botão “Start”. É frustrante, é difícil, e às vezes parece que foi feito pra te irritar. Mas quando você completa uma fase, quando você junta o mago partido — mesmo que por um segundo — parece que você também juntou algo em você. E isso, no fim das contas, é o que torna Ambidextro um dos jogos mais humanos e sarcásticos do ano.

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