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Análise | Bahamut and the Waqwaq Tree: entre serpentes, baleias e os mistérios da alma

Tem jogo que chega pra te sacudir, explodir a tela em partículas, te jogar loot na cara e te chamar de herói. E tem jogo como Bahamut and the Waqwaq Tree, que sussurra: “ei, tá tudo bem parar um pouco”.

É aquele tipo de aventura que mais parece um sonho lúcido com perfume de lenda esquecida. E quando você acorda, não sabe se jogou um game ou se teve uma conversa com o inconsciente coletivo da humanidade.

Sim, eu sei, parece exagero. Mas me diz: quando foi a última vez que você controlou uma criaturinha misteriosa nadando pelas profundezas de uma mitologia árabe submersa, com direito a baleia cósmica, árvore encantada e caligrafia flutuando como poeira mágica?

🐳 A baleia, a serpente e o oceano dentro de nós

O jogo se passa no reino subaquático de Ma’een, que um dia foi cheio de vida, mas agora tá… meio capenga. Culpa de quem? Do desequilíbrio causado por duas entidades gigantes: Bahamut, a baleia que representa a luz, e Falak, a serpente que representa a escuridão. Um yin-yang molhado e mitológico que parou de funcionar, e quem sofre são as criaturinhas mágicas que vivem ali. E você.

Você, no caso, é um espírito que tenta restaurar a harmonia. Simples? Não. Mas profundamente simbólico? Demais.

E é aí que o jogo mostra que ele não é só sobre nadar — é sobre existir, escutar, resgatar. Porque enquanto você nada por esse oceano de cores e silêncios, você também mergulha dentro de si.

✒ Caligrafia árabe como movimento. Arte ou gameplay?

Gente, para tudo: o jeito que o personagem se move foi inspirado em caligrafia árabe. E não é só enfeite, não. O traço do movimento parece um pincel flutuando na água. É bonito de ver, bonito de jogar, e bonito de entender — como se cada gesto contasse uma palavra secreta.

É raro ver um jogo com um sistema de movimentação que seja ao mesmo tempo mecânica de jogo e metáfora. Tipo quando você percebe que em Journey o deserto também é personagem, sabe?

Aqui, o movimento é linguagem. E quando você desbloqueia novas habilidades, sente como se tivesse aprendido um novo verbo em uma língua antiga esquecida.

🎨 Visual e som: o jogo sussurra, mas o impacto é grito

Visualmente, Bahamut and the Waqwaq Tree parece uma carta de amor escrita com tinta dourada e guardada dentro de uma concha.

Tudo ali é etéreo, sereno, flutuante — mas sem perder a intensidade. Cada bioma tem uma identidade, mas todos compartilham aquele sentimento de que você está dentro de um mito. Um mito que não foi criado pra ser entendido, mas sentido.

A trilha sonora então… ai. Cada nota parece saída de um instrumento esquecido em uma caverna úmida no Oriente Médio. E o mais bonito? A música muda com a jornada. Ela cresce, recua, acompanha o seu humor — tipo aquele amigo sensível que oferece um ombro sem falar nada.

🧠 Quebra-cabeças, inimigos e… não, não tem espada flamejante

Calma lá, se você chegou até aqui achando que vai montar um build de dano crítico com armadura de escamas de dragão… pode voltar duas casas.

Bahamut and the Waqwaq Tree não é sobre vencer. É sobre desvendar. Os desafios que você enfrenta são mais emocionais que mecânicos. Os inimigos? Guardiões corrompidos. As batalhas? Ritualísticas, quase danças.

E os quebra-cabeças? Mais próximos de metáforas do que de matemática. Um deles me fez lembrar daquela frase do Rumi: “Você nasce com asas, por que prefere rastejar pela vida?”

🌱 A Árvore Waqwaq e o que ela me ensinou (além de querer tatuar uma folha no ombro)

A tal árvore Waqwaq é onde tudo gira. Uma árvore mística que parou de dar frutos e, com isso, o mundo foi murchando. Olha só, me diz se isso não é o símbolo perfeito da gente em 2025?

Quantas vezes a gente para de frutificar porque tá cansado, desequilibrado, perdendo a noção de onde vem a luz e a sombra? Pois é. O jogo não te dá respostas. Mas te faz perguntar.

No fim das contas, a árvore é você. É o mundo. É a arte. E Bahamut e Falak são só os extremos que você precisa equilibrar.

Comparações inevitáveis (e algumas meio malucas)

  • Se Journey tivesse feito terapia com um monge sufi, daria isso aqui.

  • Se Abzû tivesse mais mitologia e menos aquário do SeaWorld, seria primo-irmão.

  • Se Shadow of the Colossus se passasse dentro de uma garrafa de perfume ancestral e trocasse a espada por uma pena mágica… bom, você entendeu.

Prós e Contras

Prós:

  • Uma aula de design narrativo culturalmente relevante
  • Visual que merece virar quadro de museu
  • Trilha sonora feita pra curar traumas (provavelmente)
  • Jogabilidade diferente de tudo que você já viu
  • Profundidade simbólica que só melhora com o tempo

Contras:

  • Não é pra quem quer ação frenética
  • Se você não curte jogo sem muita fala… talvez estranhe
  • Algumas mecânicas são mais contemplativas do que desafiadoras
  • Pode ser “lento demais” pra quem tem pressa de zerar​

Nota Final: 8/10

Bahamut and the Waqwaq Tree não é um jogo pra speedrun, nem pra build de dano crítico, nem pra platinar em dois dias. Ele é um jogo pra respirar mais lento, pra sentir cada cor, pra relembrar histórias que seu bisavô nunca te contou porque o mundo atropelou o tempo de contar mitos. Se você é do tipo que acha que jogos são só entretenimento, talvez passe batido. Mas se você acredita que jogos também podem ser poesia interativa, esse aqui é uma ode feita em bolhas, runas e silêncio.

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