Análise | Mandragora: Whispers of the Witch Tree — um metroidvania com raízes profundas
Existem jogos que são como aventuras. Outros, como sonhos. E tem aqueles que se sentem como… uma floresta viva, daquelas que você só entra se estiver disposto a ouvir o que o silêncio tem a dizer.
Foi assim que me senti jogando Mandragora: Whispers of the Witch Tree — um metroidvania sombrio, poético e ao mesmo tempo desafiador, que parece ter sido bordado com a mesma linha dos contos antigos que a gente lia escondido à noite, com medo e fascínio ao mesmo tempo.
Nesse jogo da Primal Game Studio, publicado pela Knights Peak, o mundo se chama Faelduum, mas poderia muito bem se chamar “Metáfora da Existência com Espinhos e Magia”. E eu digo isso no melhor dos sentidos.
Um mundo onde cada sombra tem história (e vontade própria)
Você começa o jogo como um Inquisidor, ou seja, um herói meio sombrio, meio quebrado, tentando fazer a coisa certa num mundo que claramente já passou da fase do “só precisa de um herói”. Faelduum não é um lugar que quer ser salvo — é um lugar que lamenta ser o que é. Há Entropia, corrupção, árvores sussurrantes, criaturas que parecem ter saído de um livro de ilustrações góticas e NPCs que falam como se soubessem mais do que dizem.
Lembra aquele clima de Hollow Knight? Mistura com a densidade emocional de Blasphemous e o cuidado visual de um Ori and the Blind Forest que resolveu passar uma temporada lendo Edgar Allan Poe. É por aí.
Lutar ou dançar com a morte?
O combate em Mandragora é um show à parte. Mas é o tipo de show onde você entra achando que vai brilhar e sai feliz por ainda estar inteiro. Tudo é muito calculado, estratégico, quase como uma dança ritualística com monstros que parecem ter sentimentos (e dentes demais).
Você pode escolher entre seis classes, e todas são tão diferentes entre si que dá vontade de recomeçar o jogo só pra ver como seria ser outra pessoa. Eu escolhi a Nightshade, porque se tem uma coisa que eu adoro é ser uma mistura de ladina sombria com um toque de “não encoste em mim que eu sumo”.
As lutas contra chefes são brutais e lindas. Eles não são só obstáculos — são personagens. Criaturas que te desafiam física e emocionalmente. É como se cada boss dissesse: “Você quer passar? Prove que merece.” E você merece. Mas vai suar pra isso.
Metroidvania raiz com um mapa de galhos torcidos
Se você, como eu, adora sair explorando cada cantinho do mapa só pra encontrar uma alavanca escondida ou uma parede falsa, Mandragora vai te deixar feliz como criança em loja de livros usados.
O mundo de Faelduum tem mais de 70 áreas interconectadas, e cada nova habilidade que você desbloqueia vira uma chave poética pra um passado que ainda precisa ser iluminado. Aqui, voltar é avançar, e cada nova parte do mapa parece pedir um pouco mais de coragem e paciência.
E a ambientação? Gente. É de cair o queixo e o controle. Tudo é pintado à mão, com uma paleta de cores que parece saída de um livro de alquimia melancólica. O sol aqui é pálido, e até a luz parece ter medo de se espalhar.
Uma trilha que abraça (e aperta) seu coração
Se você é do tipo que presta atenção em trilha sonora (e, honestamente, deveria), prepare-se para ser abraçado pela tristeza bonita da música composta por Christos Antoniou, com participação da majestosa FILMharmonic Orchestra de Praga.
A trilha não te distrai. Ela te acompanha. Te embala quando você explora. Te avisa que algo terrível está vindo. E te consola quando você morre pela oitava vez e pensa: “só mais uma tentativa…”
Progressão com alma e espinhos
O sistema de talentos e customização de personagem é robusto e bem construído. Dá pra escolher o caminho que você quiser seguir: mais dano, mais magia, mais defesa, ou um meio termo encantadoramente caótico.
Tem também o recurso de dual-spec, que te permite combinar duas árvores de talentos e fazer misturas criativas tipo “tanque com fogo” ou “magia e punhal nas costas” — o que, convenhamos, é uma descrição perfeita de muitas fases da vida adulta.
E como todo bom RPG, tem crafting, upgrades, loot, e aquele sentimento eterno de: “será que essa arma nova é melhor que a minha que eu adoro desde o começo do jogo?”
Spoiler: é. Mas você vai sofrer pra se desapegar.
Detalhes pequenos, alma gigante
Uma das coisas que mais me encantou em Mandragora foram os pequenos momentos. O jeito que o protagonista acaricia um gatinho numa vila abandonada. As frases poéticas de NPCs que mal falam, mas dizem tanto. O baú escondido que não tem nada demais, mas que dá uma alegria besta quando você encontra.
É nesses detalhes que o jogo mostra que não quer só ser jogado — ele quer ser vivido.
Bruxas, árvores e mitologia em camadas
O título do jogo não é à toa. A Witch Tree é real. E não é só uma árvore — é um símbolo. Da memória. Do poder. Da corrupção. Do renascimento. Tudo em Mandragora parece sussurrar, como se o mundo quisesse contar sua história, mas só pra quem tem tempo (e paciência) de ouvir.
E sim, você vai querer ouvir. Mesmo que doa.
Prós:
- Arte que vai explodir sua cabeça, parece poesia visual
- Combate intenso e estratégico com variedade real de estilos
- Exploração deliciosa, cheia de segredos e áreas interconectadas
- Trilha sonora que embala e emociona
- Progressão rica e personalizável
- Narrativa simbólica e cheia de camadas
Contras:
- Intro um pouco chata
- Controles um pouquinho rígidos nas plataformas mais delicadas
- Curva de aprendizado que pode assustar novatos no gênero
- História principal previsível em alguns pontos (mas os detalhes compensam)
Nota Final: 9/10
Jogar Mandragora: Whispers of the Witch Tree foi como ler um livro antigo encontrado por acaso numa livraria poeirenta. Aquelas histórias que você começa sem muita expectativa, mas que te pegam pela mão e não soltam mais. É um jogo lindo, denso, desafiador, poético e cheio de coração. E, pra mim, uma das melhores experiências do gênero nos últimos anos. Talvez ele não agrade quem só quer ação desenfreada. Mas pra quem gosta de sentir, de pensar, de explorar e de se perder… ele é simplesmente mágico. Então vá. Ouça os sussurros da árvore. E se prepare para se apaixonar.
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