Atenção! Espaçonave soviética de 500 kg deve cair na Terra esta noite
Ela está chegando! Uma espaçonave soviética lançada há mais de 50 anos deve voltar à Terra nesta madrugada. Trata-se do módulo Kosmos-482, lançado para uma missão a Vênus em 1972. Devido a um problema nos motores, o equipamento ficou preso na órbita do nosso planeta desde então.
Em poucas palavras:
- A sonda soviética Kosmos-482, lançada em 1972 para Vênus, sofreu uma falha e ficou presa na órbita da Terra;
- Após mais de 50 anos, ela está perdendo altitude e deve reentrar na atmosfera nesta madrugada;
- A estrutura reforçada pode resistir ao calor e não se desintegrar totalmente;
- A queda pode acontecer em qualquer ponto entre as latitudes 52° norte e sul, incluindo o Brasil;
- Cientistas acompanham a reentrada para estudar os efeitos do atrito e melhorar previsões futuras.
Agora, com o objeto perdendo cada vez mais altitude, a previsão é de que ele reentre na atmosfera da Terra por volta das 3h26 da manhã (horário de Brasília). Segundo a Agência Espacial Europeia (ESA), a queda pode acontecer até 4,5 horas antes ou depois desse horário. No entanto, o momento específico é extremamente difícil de precisar.

A espaçonave pesa quase 500 kg e é preparada para resistir a condições muito mais duras do que as da Terra. Ela foi projetada para suportar a alta pressão atmosférica e o calor extremo do planeta Vênus, por isso, os especialistas acreditam que o objeto pode não se desintegrar totalmente.
Se isso acontecer, parte do equipamento pode chegar ao chão praticamente inteira. Isso é incomum: a maioria dos satélites desativados se queima na atmosfera antes. Mas o casco reforçado da Kosmos-482 torna o caso diferente.
Originalmente, o módulo tinha um paraquedas, que poderia ajudar a amortecer a queda. No entanto, tudo indica que esse sistema se desprendeu. Sem ele, a espaçonave pode atingir o solo com velocidade próxima a 240 km/h.

A forma do objeto também é um diferencial: com cerca de um metro de diâmetro, ele é quase esférico. Segundo cientistas, isso facilita o estudo da reentrada e do atrito com a atmosfera, o que pode gerar dados úteis para futuras missões.
Área de possível queda da espaçonave cobre quase todo o planeta
De acordo com simulações feitas pelo programa TUDAT, sigla em inglês para Caixa de Ferramentas Astrodinâmica da Universidade Técnica de Delft (Holanda), a trajetória da nave mostra que a reentrada é inevitável. O software analisa a órbita da Kosmos-482 e indica sua perda gradual de altitude.
Esse movimento vem se intensificando nas últimas semanas. O ponto mais alto da órbita, chamado apogeu, está cada vez mais baixo. E o ponto mais próximo da Terra, o perigeu, também está diminuindo.
A inclinação da órbita é de 51,7 graus, o que significa que a nave pode cair em qualquer ponto entre as latitudes 52º norte e 52º sul. Ou seja: a maior parte do planeta, incluindo o Brasil.
Apesar disso, a chance de atingir áreas habitadas é baixa. A maioria dos objetos desse tipo acaba caindo no oceano ou em regiões isoladas. Ainda assim, o risco de impacto em solo existe, mesmo que seja mínimo.

O astrônomo Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (Bramon) e colunista do Olhar Digital, explica que mesmo a mais de 700 km de altura, ainda há gases na atmosfera que geram atrito com o objeto. Esse atrito reduz a velocidade da nave e força sua descida.
Segundo Zurita, esse processo acelera com o tempo. “Nos últimos dias antes da queda, os cálculos ficam mais precisos. Ainda assim, o local exato da queda só poderá ser estimado com poucas horas de antecedência”.
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Evento vai ajudar cientistas e entender as reentradas na atmosfera
Além disso, fatores como a atividade do Sol e a densidade da atmosfera em diferentes altitudes influenciam a velocidade da reentrada. Isso aumenta a margem de erro nas previsões, mesmo pouco antes do impacto.
O retorno da Kosmos-482 interessa muito à ciência. Por ter formato simples e compacto, o módulo pode ajudar a entender melhor como objetos se comportam ao reentrar na atmosfera terrestre. Ao contrário de satélites modernos, que têm formatos irregulares e partes móveis, esta espaçonave permite análises mais claras do efeito do atrito. Isso pode ajudar a tornar futuras reentradas mais seguras e previsíveis.
Quedas de equipamentos inoperantes na Terra não são raras. Todos os dias, pequenos pedaços de satélites e lixo espacial retornam ao planeta e se queimam ao entrar na atmosfera. Na maioria das vezes, isso acontece sem que ninguém perceba.
Peças maiores, como partes de foguetes, também voltam com certa frequência. Mas os impactos no solo são raríssimos. As estatísticas indicam que a chance de alguém se ferir com um pedaço de lixo espacial é inferior a 1 em 100 bilhões.
A Kosmos-482 agora está na reta final da viagem. Um lembrete de que, mesmo décadas depois de serem lançados, objetos espaciais podem retornar à Terra, trazendo história, riscos e também oportunidades de aprendizado.
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