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Aureole: Wings of Hope – Review



Mesmo em um gênero tão antigo quanto o de plataforma 2D, os games ainda conseguem criar obras únicas hoje em dia. Aureole: Wings of Hope é uma mistura bem sucedida de vários elementos diferentes, combinando velocidade, física de arremesso e inércia, puzzles e uma história elaborada sobre fé, anjos e demônios. Tudo isso enquanto adiciona claras inspirações em Sonic, uma pitada de Celeste e, por fim, retira uma das características básicas desse tipo de jogos: o controle direto sobre o movimento com o uso dos direcionais.

O resumo pode soar um tanto complicado, então vamos ver por partes – de início, adianto logo que Aureole equilibra todos os pratos muito bem e é uma delícia de jogar.

É interessante como uma experiência de jogo pode ser renovada por um design que retira uma das bases do estilo. No caso de Aureole, o controle direto é jogado pela janela. No comando de uma auréola, só podemos selecionar a direção em que vamos arremessá-la no ar, limitando a precisão que temos ao manusear o objeto angelical. Há várias nuances nessa mecânica.

Primeiro, no começo de cada fase, escolhemos o ângulo para o longo arremesso de auréola executado pela anja protagonista, Ramila. A partir daí, podemos fazer o aro ser jogado por pequenas distâncias com algo parecido com um pulo de carga dupla. É preciso tocar no chão para redefinir a carga de arremesso (tal qual os pulos em Celeste).

Há mais dois movimentos: a aceleração (idêntica ao spin dash de Sonic) e a queda vertical para o chão, ótima para interromper o movimento em arco e, de quebra, tocar o solo e recarregar os arremessos.

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O restante da gameplay depende dos elementos do cenário, com mecânicas diversas que servem tanto para proporcionar desafios quanto para criar sequências de movimento contínuo que estimulam a manter a velocidade e criam cadeias de momentos gratificantes em que a auréola avança vertiginosamente pelas curvas das fases, também como nos jogos do ouriço azul. Falando nele, até a trilha musical parece ter inspiração, com melodias animadas e agradáveis que poderiam muito bem estar presentes em títulos da mascote da SEGA.

Na verdade, rapidez é um ponto crucial aqui, marcada pelo contador de tempo e os prazos que avaliam o desempenho entre ouro, prata e bronze. As vidas da auréola são infinitas, mas voltar a um checkpoint representa um atraso que, se for frequente, pode levar a extrapolar o tempo limite da fase e, por consequência, falhar em vencê-la. Basta conseguir o prêmio de bronze para seguir na campanha, mas os jogadores mais engajados poderão tentar superar seus melhores tempos ou dos outros, em uma leaderboard.

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A campanha nos leva por seis mundos e cada um tem um hub para acessar as cinco fases obrigatórias e as duas opcionais, bloqueadas. As obrigatórias contêm um item secreto e uma pista para um puzzle que deve ser resolvido no hub e, assim, liberar as duas fases opcionais. Assim, mesmo que os elementos de exploração dos níveis seja secundário em relação ao foco na velocidade, o pouco que tem é bastante interessante e exige olhar atento.

Nos três primeiros mundos, foi bastante comum que eu conseguisse prata na primeira tentativa de cada nível, mas, depois disso, a dificuldade foi subindo e o bronze se tornou meu objetivo primário para, ao menos, poder prosseguir na ascensão.

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Um ponto de bastante equilíbrio em Aureole é que quase todos os movimentos que falei acima deixam a auréola parada onde está, sem pressão para decidir imediatamente um ângulo de arremesso. Embora quebre o ideal de velocidade contínua, esse detalhe dá margem de ajustes para passarmos de segmentos mais difíceis sem ficarmos inteiramente à mercê da inércia.

Com o tempo, é perceptível como os níveis vão ficando mais longos e mais difíceis. Para regular isso, o jogo dispõe de uma opção bem vinda que permite diminuir a velocidade da gameplay, o que facilita para os reflexos de quem joga. A outra opção nesse campo é o God Mode, o que me parece radical demais. Eu preferiria que houvesse opções intermediárias, como uma que cedesse uma terceira carga de arremesso à auréola, o que já faria grande diferença sem ter que apelar para o tudo ou nada.

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No campo narrativo, este é um platformer fora da curva, cheio de diálogos. Não lembro se alguma vez já vi um jogo no estilo que leva quase 15 minutos de introdução até colocar o jogador efetivamente no controle. Aqui, há uma população de anjos, que vivem no céu sob a tutela de sua deusa, a Mão Esquerda – ou melhor, do anjo que representa a vontade dela.

Tudo parecia bem para eles, até que os demônios, antes considerados à beira da extinção, atacam de surpresa. Entre os feridos estão Ramila, uma anja de personalidade peculiarmente preguiçosa e desconfiada, e Ryleth, um anjo que morreu durante a queda. Para um anjo retornar à vida e evitar o apagamento de sua existência, é preciso que naquele mesmo dia seja realizado o Ritual de Ascensão. Para isso, Ramila levará o novo amigo na subida de volta ao céu, sincronizando com a auréola dele para encontrar os fragmentos de fé necessários para a viagem, região por região.

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A escrita se deixa levar em diálogos sem pressa, às vezes fazendo comédia com o contraste entre jeito exagerado de Ramila e a seriedade de Ryleth; em outros momentos, as diferenças entre os dois personagens são usadas para explicar aquele mundo e para engajar em boas reflexões sobre a fé, o questionamento, o lugar social do indivíduo e a empatia.

Particularmente, fiquei surpreso e gostei bastante deste aspecto tão inusitado em platformers, mas sei que a frequência e a duração dos bate-papos, que surgem a cada cerca de três níveis vencidos, pode ser incômoda a quem só deseja pôr a mão na massa e ir direto à ação. Mesmo sendo uma questão de gosto e interesse, acho que Aureole dá mancada por não permitir pular quaisquer diálogos (a introdução longa pode ser pulada no menu de pausa), pois isso seria um incentivo para a parte do público que não está a fim de se aprofundar na leitura. Por sinal, não há português brasileiro.

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Combinando plataforma 2D diferentona com um pano de fundo narrativo interessante, Aureole: Wings of Hope consegue fazer uma obra agradável e gradualmente desafiadora, especialmente para quem buscará liberar os níveis secretos e obter ouro em cada corrida contra o tempo.

Aureole: Wings of Hope está disponível para PS5, Xbox One, Xbox Series, Switch e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela JanduSoft.

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