Elon Musk pode ser substituído como CEO da Tesla em breve; empresa nega
O conselho de administração da Tesla iniciou secretamente a busca por um possível sucessor para Elon Musk como CEO, segundo revelou o Wall Street Journal nesta quarta-feira (30). De acordo com a publicação, há cerca de um mês, membros do conselho contataram diversas empresas de recrutamento executivo para iniciar formalmente o processo de seleção de um novo diretor-executivo, em um movimento que expõe tensões sobre o futuro da fabricante de carros elétricos.
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A iniciativa ocorre em um momento delicado para a Tesla, que enfrenta grandes quedas em seus resultados financeiros. No primeiro trimestre de 2024, a empresa registrou queda de 71% em seus lucros e de 9% nas receitas, o primeiro declínio anual de vendas em mais de uma década. Um ano depois, no primeiro trimestre de 2025, as ações da companhia derreteram 15% e o bilionário perdeu US$ 145 bilhões. Paralelamente, a montadora viu sua participação no mercado global diminuir com a ascensão de concorrentes chineses, perdendo recentemente o título de maior vendedora de veículos elétricos do mundo para a BYD.
As crescentes incursões de Musk na esfera política, especialmente seu envolvimento com o governo Trump no Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), também têm sido alvo de preocupação entre investidores e membros do conselho. Durante uma reunião recente, conselheiros teriam expressado diretamente ao executivo a necessidade de dedicar mais tempo à Tesla e fazer um compromisso público nesse sentido — demanda que, segundo a reportagem, não foi contestada por Musk, que posteriormente prometeu aos investidores que passaria a “alocar muito mais tempo à Tesla” a partir de maio.
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Preocupação com performance e multitarefas de Musk
A busca por um possível sucessor mostra preocupação com o envolvimento cada vez menor de Musk nas operações diárias da montadora. Fontes citadas pelo Wall Street Journal indicam que tensões vinham se acumulando na companhia à medida que o bilionário passou a dedicar grande parte de seu tempo a Washington, frequentemente participando de reuniões do conselho e com executivos de forma remota.

Esta nova realidade contrasta com o histórico de Musk, que durante anos foi conhecido por sua imersão quase total na Tesla, chegando a dormir na fábrica durante períodos críticos de produção. De acordo com documentos internos, mais de 20 executivos reportam diretamente a Musk, uma estrutura organizacional que se torna problemática quando o CEO divide sua atenção entre cinco empresas diferentes.
A deterioração dos resultados financeiros reforça as preocupações do conselho. Além da queda nos lucros e receitas, a Tesla enfrenta pressão por ter reduzido significativamente os preços de seus veículos para enfrentar a concorrência, o que impactou diretamente suas margens de lucro. A recepção morna à Cybertruck e o adiamento de projetos esperados, como um modelo de entrada mais acessível, também adicionam elementos à crise atual.
Imagem da Tesla afetada
A incursão de Musk na política tem alienado parte da base tradicional de consumidores da Tesla, particularmente em mercados importantes como a Califórnia e Europa, onde seu alinhamento com posições políticas de direita gerou reações negativas. Segundo a reportagem do WSJ, este fator tem contribuído para a queda nas vendas nessas regiões, anteriormente bastante receptivas aos veículos elétricos da marca.
Vandalismo em concessionárias e estações de carregamento da Tesla nos EUA e Europa tem sido registrado, com protestos dirigidos tanto à empresa quanto ao próprio Musk. Um revés e tanto para uma marca que por anos foi associada à sustentabilidade e inovação tecnológica, valores que atraíam principalmente consumidores com visão progressista.
Em paralelo, o envolvimento de Musk com o governo Trump e suas tentativas de cortar gastos federais não resultaram em vantagens para a Tesla. O executivo reconheceu isso publicamente, afirmando que continuaria “a defender tarifas mais baixas em vez de tarifas mais altas, mas é só o que posso fazer”, admitindo que a decisão final cabe ao presidente.
Tesla e Musk negam notícia
Tanto a Tesla quanto Elon Musk reagiram rapidamente para desmentir a reportagem do Wall Street Journal. Na manhã desta quinta-feira (1), a presidente do conselho de administração da Tesla, Robyn Denholm, publicou um comunicado oficial no X afirmando que a notícia é “absolutamente falsa” e que o conselho está “altamente confiante” na capacidade de Musk de “continuar executando o empolgante plano de crescimento à frente”.
Musk, por sua vez, também usou sua conta pessoal na plataforma para classificar o artigo como “deliberadamente falso”, em um posicionamento característico do executivo contra reportagens que considera desfavoráveis. Vale lembrar que o bilionário é proprietário do X (antigo Twitter) desde 2022.
Apesar dos desmentidos enfáticos, as incertezas persistem. Durante a última conferência de resultados, Musk já havia antecipado uma mudança de postura, afirmando que reduziria significativamente seu trabalho na administração Trump, que passaria a realizar remotamente, para focar mais em suas empresas — uma declaração que coincide com o relato do WSJ sobre a reunião com o conselho.
Earlier today, there was a media report erroneously claiming that the Tesla Board had contacted recruitment firms to initiate a CEO search at the company.
This is absolutely false (and this was communicated to the media before the report was published).
The CEO of Tesla is…
— Tesla (@Tesla) May 1, 2025
It is an EXTREMELY BAD BREACH OF ETHICS that the @WSJ would publish a DELIBERATELY FALSE ARTICLE and fail to include an unequivocal denial beforehand by the Tesla board of directors! https://t.co/9xdypLGg3c
— Elon Musk (@elonmusk) May 1, 2025
Conselho na berlinda e críticas a Denholm
A controvérsia reacendeu críticas antigas sobre a falta de independência do conselho da Tesla e sua incapacidade de controlar Musk. Investidores ativistas há muito acusam os conselheiros de serem excessivamente leais ao CEO, com poucos membros verdadeiramente independentes. Entre os oito integrantes, figuram Kimbal Musk, irmão do executivo, e James Murdoch, filho do magnata da mídia Rupert Murdoch, dono da Fox e da 21st Century Fox.
Robyn Denholm, que preside o conselho desde 2018 (quando substituiu o próprio Musk após acordo com a SEC), tem sido particularmente alvo de críticas. Sua defesa do controverso pacote de remuneração bilionário de Musk e seu próprio pacote de compensação geraram questionamentos sobre sua capacidade de supervisionar a empresa e seu presidente executivo.

Em março de 2024, Denholm vendeu aproximadamente US$ 33,7 milhões em ações da Tesla, de acordo com documentos arquivados na SEC, uma movimentação que gerou mais especulações sobre sua confiança no futuro da empresa. Apesar disso, ela descartou as alegações de comprometimento em sua supervisão, e um porta-voz afirmou que sua remuneração é justa.
Segundo o WSJ, o conselho estaria procurando adicionar um novo diretor independente, um possível reconhecimento das críticas sobre sua composição atual. Alguns conselheiros, incluindo o cofundador JB Straubel, estariam realizando reuniões com grandes investidores para garantir que a empresa está em boas mãos, em uma aparente tentativa de acalmar o mercado.
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