Maior cemitério de escravizados pode estar em estacionamento na Bahia
Um cemitério de pessoas escravizadas do século XVIII pode ter sido encontrado no estacionamento da Pupileira, da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, em Nazaré. A escavação teve início nesta segunda-feira (14), dia que marca a “Revolta dos Malês“, maior revolta de escravizados da história do Brasil, ocorrida em Salvador (BA). Os trabalhos serão realizados até 22 de maio.
O local foi identificado após extensa pesquisa realizada pela doutoranda Silvana Olivieri, do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

O cemitério pode se constituir num dos maiores acervos de remanescentes humanos de pessoas negras escravizadas das Américas, com mais de 100 mil pessoas sepultadas ao longo de 150 anos.
História por trás da descoberta do cemitério
- Este pode ser considerado o primeiro cemitério público de Salvador, com sepultamentos de escravizados, insurgentes e descendentes;
- Entre eles, líderes de revoltas e insurreições negras, como Búzios e Malês, colocados em valas comuns e superficiais, sem cerimônias religiosas ou ritos fúnebres;
- A arquiteta e urbanista encontrou o local após reunir mapas e plantas de Salvador do século XVIII, além de estudar referências bibliográficas de historiadores, como Braz do Amaral (1917), Consuelo Pondé de Sena (1981) e um livro escrito em 1862 por Antônio Joaquim Damázio, contador da Santa Casa.
A descoberta “reconstrói saberes de um período colonial que ainda abriga muitos silenciamentos e apagamentos históricos”, segundo comunicado da UFBA. A instituição criou comissão para acompanhar e apoiar as iniciativas voltadas para o resgate e a manutenção do cemitério.
Os trabalhos de escavação serão coordenados pela arqueóloga e antropóloga Jeanne Dias. Após a etapa de prospecção arqueológica, a universidade fará reuniões para determinar os próximos passos da pesquisa nas esferas patrimoniais, históricas e espirituais.

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Reparação simbólica
No início do mês, o Ministério Público Estadual da Bahia conduziu reunião com líderes de diversas tradições religiosas negras para buscar as melhores formas de reparação espiritual e restituição da dignidade e honra dos milhares de enterrados.
Ficou definido que as lideranças religiosas envolvidas no processo serão consultadas ao longo de toda a pesquisa sobre o cemitério, incluindo orientações sobre como proceder nesta fase inicial.
Além disso, eles pedem mais esforços para que as instituições públicas assumam suas responsabilidades e se integrem ao esforço de resgate e salvaguarda do cemitério dos africanos de Salvador.
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