Review: Doom The Dark Ages simplifica a fórmula e diverte horrores
Quando Doom teve um reboot em 2016, fãs (ou seriam órfãos?) da franquia regozijaram. Agora, com Doom The Dark Ages, é mais uma oportunidade de ouro de fazer uma trilogia impecável. Mas será que o novo título, tido com um prequel, está à altura?
Se você jogou Doom Eternal, pode ser um dos fãs que não gostou das adições e mudanças na fórmula que, aparentemente, foi bem mais fidedigna no título de 2016. E, se você espera que Doom The Dark Ages seja uma espécie de “retorno”, é bom manter as expectativas em xeque: novamente, temos mudanças, evoluções e mixagens nos temperos.
Com o terceiro game saindo em 2025, cada um deles traz uma abordagem única. Após 17 horas de campanha e muita matança de demônios, Doom The Dark Ages pode não ser meu predileto, mas certamente mantém o altíssimo nível de qualidade da série – mesmo que haja alguns tropeços no caminho. Venha ver a nossa análise completa!

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
Prequel? Não parece muito
Convenhamos: se você gosta de Doom, não é exatamente pela história. Se elas eram minimamente boas ou apenas pano de fundo, é algo subjetivo, mas é inegável que a apresentação de Doom The Dark Ages deu uma esperança para algo um pouco além do comum. Afinal, ele é um prequel e veríamos o Slayer em um local, tempo e situações bem distintas.
E o novo jogo consegue fazer isso? Não. Nem de perto. Chega até ser curioso, porque esse talvez seja o game da franquia com a maior quantidade de cutscenes e apresentações soberbas (além de arquivos e mais extras para explicar esse universo), mas ainda assim consegue ser um dos mais irrelevantes.

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
Não me entenda mal, as cenas são ótimas, bem dirigidas, trazem sequências bombásticas e diversos personagens, mas o problema é que não parece comunicar muita coisa. Ao fim da campanha, ainda não há nada que ligue os eventos do jogo aos demais – na realidade, é algo tão desconexo que, se alguém me disse que era uma sequência, não um prequel, daria para aceitar numa boa.
Outro planeta, novas facções de humanos e extraterrestres, hierarquia do inferno, reino do vazio com o próprio Cthulhu (ou algo muito próximo disso) e, mesmo assim, o que temos por aqui é só o básico para criar um roteiro coerente de pano de fundo, nada mais.
E, mesmo nesse aspecto, há algumas confusões, cortes que parecem deixar alguma informação de lado e personagens que têm pouquíssimo tempo de tela para serem desenvolvidos (e tinham potencial). Claro, novamente, Doom The Dark Ages nunca seria uma maravilha narrativa, mas a ambientação de prequel deixou uma certa expectativa para ter algo, qualquer coisa, que desse uma elevada nesse aspecto. Mas não tem.

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
Ao menos o nosso querido Slayer talvez esteja em sua melhor representação que já vimos desde sempre. O homem (se é que podemos chamá-lo assim) é uma verdadeira bomba nuclear em forma de humano, amedrontando tudo e todos por onde passa, representado com uma verdadeira arma de destruição em massa ambulante.
Doom The Dark Ages não se contém ao trazer uma das melhores ambientações que a franquia já viu, recheada de cenários fantásticos, variados e que entregam tudo e mais um pouco: ao menos no tema, o game acerta e muito.
Uma nova fórmula entra em cena, com acertos e tropeços
Doom de 2016 trouxe uma filosofia nova (e fantástica, diga-se de passagem) de sempre estar em movimento, além de microgerenciar as execuções de demônios para sempre ter saúde, armadura e munição. Em Eternal, vimos uma evolução desses conceitos, mas com mais ferramentas, mais verticalidade e mais mecânicas que exploravam arenas refinadas e muito mais.
Eternal dividiu a comunidade, mas é tipo por muitos como um jogo superior. E Doom The Dark Ages? Curiosamente, o terceiro game da franquia deixa de lado esses alicerces e parte para trazer novidades. Como disse, ele não se tornou o meu favorito, mas acho que a mudança de ares vale aplausos por evitar cair em repetição.

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
Aqui, a filosofia adotada é a de rasgar e dilacerar demônios em massa, com cenários maiores, mais horizontais (ou ao menos bem menos verticais) e de uma forma um pouco mais simples. Segundo os desenvolvedores, a ideia era trazer algo mais na experiência de “defenda sua posição”, com menos mobilidade e mais defesa.
E isso fica bem claro desde o começo em Doom The Dark Ages, já que a nossa principal ferramenta é o escudo do Slayer, capaz de defender inúmeros golpes, realizar contra-ataques de golpes verdes e até mesmo servir de proteção durante avanços rápidos.
Entretanto, o escudo está longe de ser uma defesa impenetrável: ele pode superaquecer com golpes e precisa ser aprimorado para ganhar mais utilidade. De qualquer forma, ele é uma ferramenta muito presente, bem mais do que as granadas, serra elétrica ou lança-chamas dos anteriores, e traz muita, mas muita diversão com os lançamentos para matar demônios inferiores ou nos parries.

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
Diga adeus às “Glory Kills” e dê alô para uma jogabilidade que não requer tanta movimentação. Doom The Dark Ages simplifica bastante os elementos de gameplay dos títulos anteriores, dando uma ênfase muito menor no gerenciamento de recursos e nas suas ferramentas para recuperar vida ou munição.
Atire sem parar e destrua os demônios. Muitos, muitos deles. O foco é metralhar tudo que vem pela frente, mas sem necessariamente se movimentar por todo o cenário para evitar o perigo. Aqui, o Slayer é retratado como a figura encarnada do perigo: imortal, imoral e imbatível, uma verdadeira força da natureza que nem o inferno pode parar, algo que transparece bastante na jogabilidade e destoa um pouco dos anteriores.
Acompanhando essa filosofia, Doom The Dark Ages traz um arsenal um pouco diferenciado, que mescla armas medievais com tecnologia. Honestamente? Eu achei todas fantásticas, mas, diferente dos seus antecessores, senti que boa parte delas vão se tornando descartáveis no andar da carruagem.

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
Como Doom The Dark Ages simplifica muito o combate para entregar mais adrenalina, você não precisa trocar o seu arsenal para lidar com tipos específicos de inimigos. Uma das armas, por exemplo, atira muitos projéteis na horizontal e é perfeita para grupos enormes de inimigos fracos. O problema? Em pouco tempo o seu escudo faz a mesma coisa, talvez até melhor.
No fim, eu usei muito mais a Superescopeta, o Ciclador (de plasma) e uma ou duas extras, simplesmente porque eram muito, mas muito mais fortes. E a munição, você pode me perguntar? Bom, ela é generosa o tempo todo e há muitas maneiras de recuperá-la facilmente, nunca me obrigando a alternar o meu arsenal.

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
O sistema de combate corpo a corpo funciona bem e traz até um arsenal diferente, como um mangual e um bastão, mas ele recarrega bem rápido e garante munição aos montes, nunca deixando faltar nada. Por um lado, há a diversão de se sentir uma verdadeira potência, por outro tira um pouco da complexidade.
Além disso, ainda há os upgrades das suas ferramentas e armas. Eles são muito legais, não me entenda mal, mas rapidamente você estará muito poderoso. Por um lado positivo, isso ajuda a representar o Slayer no seu auge, quase como um deus, mas há um aspecto negativo de tirar um pouco da variedade.
Doom The Dark Ages acerta EM CHEIO ao dar a sensação de que o jogador é uma ameaça, uma divindade em forma humana, capturando um sentimento de poder muito bom (mesmo que ao custo de ficar um pouco mais raso em mecânicas)
Se em no título de 2016 e em Eternal você tinha que ser mais cauteloso com seus recursos, gerenciando até mesmo suas ferramentas para recuperar balas, em Doom The Dark Ages você tem um combate corpo a corpo muito presente que sempre o recompensa com recursos. O escudo e um punhado de armas dão conta do recado.

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
Isso somado à simplificação dos inimigos, que não têm mais partes fracas, necessidade de armas específicas para serem derrotados ou até mesmo na diminuição da importância dos demônios fracos, traz um combate muito divertido, mas consideravelmente mais raso. Se você vai gostar mais ou menos, é subjetivo. Eu não apreciei tanto quanto nos demais.
Por mais que haja uma quantidade substancial de demônios e seres extraterrenos para trucidar, por serem mais simples de lidar a experiência quase cai na repetição. Eu nunca me entediei com Doom The Dark Ages e gostei muito do que joguei, mas ele carece um pouco do dinamismo e profundidade dos títulos anteriores.
O que pode ajudar a mitigar esses potenciais problemas é o seletor de dificuldade soberbo. Doom The Dark Ages traz seleções padrão, mas também há modificadores que aceleram o jogo, aumentam (ou diminuem) o tempo de parry, vida dos inimigos, dano que você leva e muito, muito mais. É uma experiência completamente personalizável!

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
Seções diferentes, mais exploração e muita adrenalina
Se você assistiu aos trailers, já deve ter visto os mechas gigantes e as seções em que o Slayer monta em um dragão. Sério, elas são tão fantásticas quanto parecem. Doom The Dark Ages acerta em cheio ao trazer algumas experiências diferentes no gameplay e faz em grande estilo.
Os níveis com o dragão são espetaculares. É extremamente divertido voar em velocidades impensáveis com um dragão equipado com jatos. Há perseguições aéreas, lutas contra monstrengos, invasão de bases e muito mais. A parte mais legal é que isso acaba se misturando com trechos à pé, sem cansar a jogatina.

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
Os mechas de Doom The Dark Ages são um pouco mais roteirizados e em trechos mais curtos, sem muita complexidade. Contudo, isso é feito com uma apresentação tão soberba e em momentos tão bons que é impossível não ficar de queixo caído. Ambos são adições fenomenais que dão uma quebra agradável ao ciclo de repetição normal do jogo.
E, por falar nisso, o level design está um pouco diferente dessa vez também. A progressão ainda continua por fases, mas algumas delas são bem maiores e incentivam a exploração, colocando recursos para upgrades de armas, colecionáveis e até mesmo codex da história do mundo.

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
Honestamente, por mais que o combate tenha perdido boa parte da verticalidade, os desafios de puzzle de cenários são bem legais e instigam bastante a ver o cenário com mais cautela. Me peguei diversas vezes querendo parar de atirar para tentar descobrir como progredir em uma porta trancada opcional.
Esses elementos todos foram muito benéficos para alternar entre os combates constantes de Doom The Dark Ages, ajudando a experiência a ter uma variedade maior de atividades. Sem dúvidas, um dos pontos altos da campanha.

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
Graficamente estupendo: um exemplo de beleza e otimização
A id Software sempre deu aula no quesito apresentação e otimização, mas Doom The Dark Ages pode ser o auge tecnológico da desenvolvedora. O game utiliza a idTech 8, a última versão do motor gráfico da companhia, e a apresentação visual é soberba – e o melhor de tudo? Parece rodar muito bem.
Por ser um jogo bem menos vertical que seus antecessores, Doom The Dark Ages apresenta cenários vastos, largos e com a possibilidade de olhar longe ao horizonte, sempre trazendo muita ação até mesmo fora do escopo de gameplay: sempre há um mecha lutando contra um demônio gigante, luta de naves ou até mesmo catástrofes naturais.

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
Para onde quer que você olhe, Doom The Dark Ages reserva algo fantástico que vai chamar sua atenção. Mas, a verdade, é que você nem precisa se focar no horizonte, porque tudo ao redor traz gráficos e uma direção de arte fantástica. A equipe realmente soube incorporar a estética medieval-futurista e trazer um universo muito rico.
Todos os designs de armas são incríveis, a variedade de cenários sempre surpreende, a caracterização de todos os personagens, especialmente o Slayer, é soberba. Tudo isso anda em conjunto com um nível técnico de altíssima qualidade, já que todo o jogo utiliza ray tracing de iluminação global, sombras e reflexos.
A idTech 8 é realmente fora da curva. Mesmo com muitos recursos avançados de hardware, que trazem detalhes e fidelidade gráfica de altíssimo nível, Doom The Dark Ages rodou como um sonho no meu PC. No meu setup, que conta com uma GeForce RTX 5080, um i7-13700K e 32 GB de RAM, ter tudo no modo Ultrapesadelo em 1440p e com DLSS Qualidade me proporcionou uma performance entre 90 e 100 fps.

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
Entretanto, ao ligar o frame generation do DLSS 4, essa métrica subiu para 180 a 200 fps em x2 (e poderia ir além com x3 ou x4). Não há quedas bruscas de desempenho, não há compilação de shaders, stutterings, travadas, nada: tudo roda liso. A única exceção foram alguns bugs gráficos que devem ser corrigidos até o lançamento. E tudo isso ainda sem o path tracing, previsto para chegar depois do lançamento.
Já na trilha sonora, Doom The Dark Ages traz uma experiência mais mista. Embora haja faixas com um heavy metal pesado torando em nossos ouvidos enquanto a ação come solta, senti falta de músicas icônicas da série e um peso maior. Sabemos que Mick Gordon não trabalha mais com a Bethesda e isso fica evidente ao longo da campanha.
Não é que o trabalho não seja bom, mas falta um peso maior, uma presença mais marcante da trilha sonora. É bom suficiente, mas não está à altura do que vimos no passado.

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
Doom The Dark Ages vale a pena?
Doom The Dark Ages traz uma abordagem interessante e diferente dos demais títulos até agora. A mistura de exploração, combate mais simples e seções espalhafatosas no dragão e mecha criam um ritmo muito bom para aproveitar sua campanha de 17 horas (e eu sequer fiz 100% em todas as fases).
E, apesar de ter curtido bastante da experiência, sinto que ela é um pouco mais rasa do que eu gostaria. Entre os três, Doom The Dark Ages talvez seja meu menos preferido, mas ainda traz um altíssimo valor de produção, diversão aos montes e uma das melhores representações do Slayer até hoje.

Imagem: Flow Games/Vinícius Munhoz
Há algumas oportunidades desperdiçadas ao longo do caminho, algumas redundâncias e uma simplificação até além do que eu imaginava em certas mecânicas, mas aplaudo a equipe da id Software por tentar algo diferente. No fim, Doom The Dark Ages cai um pouco no estilo “mais estilo do que profundidade”, mas ainda entrega bastante.
Doom The Dark Ages foi gentilmente enviado pela Bethesda no PS5 e pela NVIDIA no PC para a realização desta análise.