Tratamento de silêncio pode causar dor física e efeitos colaterais. Quando ligar o alerta?
Você já deve ter ouvido falar do tratamento de silêncio. É um nome popular para quando alguém se recusa a conversar sobre um problema ou briga, e resolver a situação. No lugar, a pessoa opta por ficar em silêncio e se isolar, seja do diálogo cara a cara ou por mensagem e ligação.
Segundo o dicionário Merriam-Webster, o comportamento refere-se ao ato de “ignorar completamente uma pessoa ou coisa recorrendo ao silêncio, especialmente como meio de expressar desprezo ou desaprovação”.
Em alguns momentos, a ‘técnica’ pode ser útil, dando tempo para que o indivíduo reflita sobre o que aconteceu antes de buscar a resolução do problema. Pode até evitar discussões desnecessárias.
No entanto, em outros casos, o tratamento de silêncio pode ser usado como forma de manipulação, fazendo com que a outra pessoa do relacionamento (seja romântico, familiar ou de amizade) se sinta abandonada.
Entenda quando prestar atenção para sinais de abuso.

Por que alguém recorre ao tratamento de silêncio?
Bernard Golden, psicólogo, fundador da Anger Management Education em Chicago e autor de livros sobre gerenciamento de emoções, escreveu um artigo de opinião na Psychology Today sobre os motivos pelos quais alguém recorre ao tratamento de silêncio.
Veja:
- Evitar conflitos: algumas pessoas podem não se sentir confortáveis o suficiente para expor seus sentimentos durante um diálogo;
- Falta de autoconsciência: algumas podem se sentir confusas com seus próprios sentimentos, sem saber expor o que realmente aconteceu. Com o tratamento de silêncio, elas querem mostrar de alguma forma que ficaram chateadas;
- Falta de habilidade de comunicação: algumas pessoas até sabem o que estão sentindo, mas não se sentem aptas o suficiente para se comunicar;
- Punição: alguns indivíduos usam o tratamento de silêncio na intenção de punir ou controlar alguém, fazendo com que a outra pessoa se sinta culpada;
- Para evitar responsabilidade: algumas pessoas preferem se isentar do que realmente assumir responsabilidade pelas suas ações.

Quando ligar o alerta?
Como falamos, algumas pessoas optam por ficar em silêncio para evitar conflitos que consideram que não serão produtivos. Já outras usam esse tempo longe para refletir sobre o que aconteceu.
Para Ailen Lescano, psicóloga especializada em traumas, esse tempo é uma ótima ferramenta para que a pessoa possa se fortalecer antes de agir. Ao mesmo tempo, há momentos em que o comportamento pode ser usado para manipulação, como quando alguém o faz de forma intencional, sabe do dano emocional que está causando a outro indivíduo e opta por continuar assim.
Ela também chama atenção para o gaslighting, uma forma de manipulação que faz a pessoa duvidar do que está acontecendo. Nesses casos, o tratamento de silêncio é usado de forma manipuladora para alternar entre distância e proximidade quando a convém. São duas formas de abuso emocional.

Tratamento de silêncio tem efeitos físicos no corpo
Um estudo publicado na revista Frontiers in Evolutionary Neuroscience revelou que o tratamento de silêncio pode causar dor física. Isso porque ele ativa o córtex cingulado, parte do cérebro responsável pelos comportamentos. É a mesma parte responsável por registrar dor física.
Ou seja, as vítimas desse tipo de abuso não sentem a dor a nível emocional apenas.
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A pesquisa também sugere que a repetição desse comportamento pode causar efeitos prejudiciais na pessoa afetada. Por exemplo, alterações de peso, distúrbios de sono e aumento da pressão arterial. Lescano lista outras consequências frequentes:
- Perda de identidade;
- Alterações de humor;
- Ansiedade e depressão;
- Perda de julgamento da realidade;
- Perda de laços poisitivos;
- Perda de prazer.
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